O Dia Internacional da Mulher é, talvez, a data com mais comemorações equivocadas que existe no calendário. Muitas supostas homenagens são, na realidade, uma total negação do espírito igualitário que a inspira. “Parabéns às mulheres de verdade” é uma das frases mais corriqueiras. No rock, não é diferente: não é raro vermos a exaltação às fãs do gênero em detrimento das minas que preferem outros estilos musicais.
Como esta coluna é sobre movimento punk e, automaticamente, sobre liberdade, tentarei fugir de tal postura e simplesmente trazer uma lista com mulheres que foram fundamentais para o punk rock existir. Apesar de o estilo ter elevado o discurso da liberdade e da crítica ao sistema em níveis máximos, o padrão do stablishment costuma ser reproduzido no meio, com as mulheres sendo colocadas em segundo plano.
Para refrescar a memória – e espero que nunca se esqueçam –, aqui vai um time de minas que fizeram a história do movimento, sem as quais o punk rock certamente teria outra cara.
Patti Smith
Muito ligada à literatura, a ianque de Chicago é conhecida como “poetisa do punk”. Intelectual engajada, já escreveu sobre feminismo, pintou, atuou, trabalhou como jornalista, fez recitais e performances artísticas. Mas foi com o Patti Smith Group que ficou mundialmente conhecida. Ela foi sucesso durante os anos 70, no auge do movimento, sendo uma das atrações da Meca do Punk Rock, o bar CBGB.
Passou quase toda a década de 80 afastada da música, retornando em 1988 com uma pegada mais “comercial” do que de costume. Prosseguiu na ativa durante os anos 90, 2000 e 10 (do século 21), e nesse tempo também publicou vários livros de poesia. Além disso, foi militante contra a guerra no Iraque e pelo impeachment de George W. Bush. Patti está na ativa atualmente e não parece que vai parar tão cedo.
Joan Jett
Entre dez listas de maiores nomes do punk, dez deverão ter o nome de Joan Jett. Nas de mulheres mais bemsucedidas do rock, a regra também vale. Sua alcunha é “a rainha do rock ‘n roll”, e não é para menos. Nascida no subúrbio da Filadélfia e remanescente da geração que decolou o mítico bar CBGB, foi frontwoman da lendária banda feminina The Runaways.
Além de ter feito muito sucesso com sua carreira solo e de ser uma das primeiras, se não a primeira mulher a começar sua própria gravadora, é uma das duas únicas minas na lista dos 100 maiores guitarristas da revista Rolling Stone, junto à diva folk Joni Mitchell. Já fez diversas parcerias, como com Sex Pistols, Lemmy Kilmister e Steve Jones – o que, é óbvio, não é nenhuma honraria especial para seu currículo, já que Joan é uma lenda por si própria.
Chrissie Hynde
Pode haver quem diga que ela é até mais new wave do que punk, mas o fato é que a eterna líder dos Pretenders é muito atitude e praticante assídua da filosofia DIY, ou Do it yourself – faça você mesmo.
Tanto é que, na história da banda, ela é o único membro permanente: mesmo com diversos problemas, além do vai e vem de músicos, Chrissie jamais desistiu de seu som, sempre segurando as pontas e mantendo o controle.
Apesar de ter feito a carreira na Inglaterra dos primórdios do punk, ela nasceu em Ohio. Mas o fato é que Chrissie é uma cidadã do mundo, e uma prova disso é que em 2004 veio morar no Brasil, onde firmou uma parceria musical com Moreno Veloso, filho do patrimônio nacional Caetano.
E ela não para: em 2014, lançou seu primeiro álbum solo, além de cada vez mais se notabilizar pela militância em prol dos direitos animais e da dieta vegetariana, sendo inclusive ligada ao PETA.
Kira Roessler
Ela começou a tocar no underground estadunidense com a banda DC3, quando foi “descoberta” pelos caras do Black Flag em Los Angeles. A lendária banda pioneira do hardcore precisava de um novo baixista, em substituição a Chuck Dukowski.
Quando viram Kira tocar, não tiveram dúvidas: ela era “o cara”. Ela topou, desde que isso não atrapalhasse sua faculdade de engenharia na capital californiana.
A condição foi aceita e o Black Flag teve de adaptar sua turnê ao calendário acadêmico da mina. O irônico disso é que ela saiu da banda no ano em que se formou, em 1986. Ao sair do Black Flag, formou o duo Dos, com o então futuro (ex) marido Mike Watt.
Hoje, Kira trabalha como roteirista de cinema, tendo colaborado em Confissões de Uma Mente Perigosa, Sob o Sol da Toscana e (pasme!) a saga Crepúsculo, além de alguns documentários. Em 2003, tocou com os excolegas em um disco tributo ao Black Flag.
Debbie Harry
Essa mina nascida em Miami e radicada em Nova Iorque é uma das espinhas dorsais do movimento punk nos States. Antes de se envolver com a música, chegou a ser coelhinha da Playboy. Com o Blondie, participou da “geração CBGB” e tocou o terror em quem achava escandaloso uma mina com aparência dita “delicada” cantar esse tipo de música. Namorou Joey Ramone e até hoje diz que ele foi o homem mais sexy que ela já conheceu, mas isso está bem longe de ser o que a faz tão foda.
Debbie não é a ex do Joey, é Debbie Harry, ela própria um mito da história do Rock. Além do punk, também ajudou a fundar o new wave, ao misturar ao som pitadas de pop e disco music. Foi nessa fase que o Blondie mais fez sucesso, e que Debbie foi considerada um dos maiores sex symbols dos EUA. Mais tarde, ela também atuou no cinema cult, sendo parte de mais de trinta filmes.
Amy Miret
Talvez a mais crua da lista em termos de som, Amy é a “diva” (se é que aceitaria este rótulo) do crust punk, um subgênero de apelo underground, com influência do metal, mais sujo e pesado do que o punk tradicional. No crust, a questão política presente no movimento é potencializada, havendo um alinhamento ideológico de extrema esquerda, geralmente anarquista.
A banda novaiorquina Nausea foi uma das precursoras dessa galera, com seu som bastante pesado e suas letras, que abordavam críticas ao governo Reagan e à política bélica não só dos EUA, como também da URSS.
A principal cabeça por trás disso era Amy, que além de vocal da banda, era militante feminista, ambientalista e antiespecista (a favor dos direitos animais). Desde os anos 90, ela vive reclusa e afastada da música. Um dos poucos registros de sua imagem desde então é um documentário de 1999 sobre a cena punk de Nova Iorque.
Só tenho a concordar com a matéria. Certamente são pessoas inesquecíveis para a história do punk rock!!!
Todas importantíssimas!
muito interessante!! elas foram muito importantes. Só senti falta das mulheres negras na lista, como o trio Big Joanie por exemplo:)