Tudo começou no início dos anos 90 quando foi criado o Riot Grrrl, movimento punk feminista por Kathleen Hanna, vocalista da banda Bikini Kill. Este foi um movimento muito importante, pois batalhava em prol de colocar as meninas na frente, tanto no palco como em todo o cenário, além de acabar com os abusos, de todos os tipos, que elas sofriam dentro da cena punk, que até então era predominada por homens.
Porém, este movimento não era tão inclusivo para mulheres não-brancas. Para começar, a musa do movimento era branca, a maioria das adeptas eram brancas e todas de classe média. Ainda, se esqueciam de que o feminismo no punk se deu nos anos 70 graças a uma mulher negra chamada Poly Stirene, vocalista do X-Ray Spex e dona do hino Oh Bondage! Up Yours!. O Riot Grrrl até discutia o racismo em suas reuniões, mas tudo sob o ponto de vista das garotas brancas que viviam em um ambiente pouco acolhedor para as não-brancas.
Haviam mulheres negras no movimento, porém eram poucas e não tinham protagonismo nenhum, uma delas era a adolescente Ramdasha Bikceem, que publicava o fanzine GUNK. Já existia alguns fanzines que criticavam a falta da visibilidade não-branca no movimento, como o Bamboo Girl e Chop Suey Specs, feitos por garotas asiáticas. Mas, pela primeira vez na história, a falta da visibilidade negra foi questionada quando Ramdasha deixou de publicar edições que se resumiam apenas a fotos de seus amigos e letras de músicas para dar lugar a edições que abordavam o assunto.
Ramdasha abriu portas para que criassem o Sista Grrrl’s Riot
As novas edições de GUNK repercutiram tanto que as punks negras Tamar Kali, Honeychild Coleman, Maya Glick e Simi Stone se uniram para criar o Sista Grrrl’s Riot, que não só era um movimento em prol da visibilidade negra no cenário punk, como também no cenário underground.
Dentre essas garotas, a que mais sentia necessidade deste então novo movimento era Tamar, que, sendo negra, punk, lésbica e de atitude de combatente, corria um risco maior de ser alvo de violência e exclusão na sociedade. Ainda, as situações vivenciadas por ela não condiziam com a imagem que a Riot Grrrl passava. “Eu pensava: ‘Eu tenho que sobreviver, eu tenho que me defender’. Riot Grrrl parecia muito divertido e eu não estava brincando”, desabafou a musicista.
Já Honeychild se uniu para criar o movimento por ser a única garota negra do seu grupo de amigos punks da escola. Ela sentia que tinha que sair de sua cidade natal, Kentucky, e se mudar para Nova York para encontrar com pessoas como ela. Após se formar em artes, ela seguiu o seu destino, mas, chegando lá, encontrou dificuldades ao tentar a carreira musical e passou a se apresentar nas estações de metrô, sem contar que não encontrou nenhuma outra garota punk e negra. Cercada por homens, ela recebeu ajuda deles para se encaixar na cidade.
Honeychild conheceu Tamar por meio de seu colega de quarto, as duas se identificaram na hora. Logo depois, Tamar conheceu Maya, irmã de um amigo que também era do meio musical, e a apresentou para Honeychild em um de seus shows. No mesmo dia, enquanto estava se arrumando no backstage, Tamar conheceu a violinista Simi, que também foi apresentada para as outras duas Sistas, e assim se iniciava o Sista’s Grrrl Riot.
A primeira reunião do Sista’s Grrrl Riot
No dia 14 de fevereiro de 1997, as então quatro novas amigas realizaram a primeira reunião do movimento, um evento musical no Brownies, uma casa de shows localizada na 5ª avenida, onde cada integrante do Sista’s se apresentavam com suas respectivas bandas. Seu flyer de divulgação contava com a imagem das garotas prontas para a luta armadas de revólveres e facões.
O primeiro evento foi bem-sucedido e, logo, o grupo foi realizando outros com direito a espaço para outras garotas não-brancas tocarem. De todos esses encontros surgiu um espaço seguro para outras pessoas negras e punks, que também se sentiam excluídas no meio, frequentarem.
Antes da formação do Sista’s Grrrl Riot, cada uma das garotas se imaginavam sozinhas no meio punk. Depois da primeira reunião do movimento, elas se deram conta que havia muito mais gente nas mesmas condições do que elas mesmas imaginavam. “O que foi realmente comovente e impressionante é que nenhuma de nós havia tocado para tantas pessoas negras em um mesmo lugar na nossa vida inteira, até nos fazermos a primeira revolta”, conta Honeychild.
Infelizmente, os registros em vídeo dos eventos são difíceis de ser encontrados e não há nada relacionado no YouTube, enquanto que sobre o Riot Grrrl é muito fácil de ser encontrado pela internet. Entretanto, há um documentário lançado em 2003 chamado Afro-Punk, que aborda sobre os negros no cenário punk. Esta produção está disponível, inclusive legendado, no Youtube.