Raquel Hubner, mais conhecida como Tarantula Coffin é a Pin-Up do Mês de outubro, e em homenagem ao Halloween, nos presenteia com um ensaio inspirado no filme de Anna Biller: The Love Witch (2016). O longa, protagonizado por Samantha Robinson, mostra uma bruxa moderna que usa magia para fazer os homens se apaixonarem por ela, mas o resultado acaba sendo fatal.
Referência no estilo Dark Pin-Up, Tarantula é apaixonada por horror vintage e pela rebeldia e subversão das décadas passadas. Ela nos conta sobre esse e outros interesses na entrevista abaixo. Confira:
Universo Retrô – Nos conte como iniciou seu gosto pelo horror vintage.
Tarantula Coffin – De forma mais consciente, eu diria que através do expressionismo alemão no cinema. Quando assisti Nosferatu eu descobri um interesse muito grande pelo assunto, e a partir daí passei a pesquisar mais e mais filmes, e eventualmente, acabei esbarrando também com músicas que exploravam esse tema.
Universo Retrô – Há alguns anos, com a ascensão do estilo Dark Pin-Up, você foi uma das garotas referências nesse estilo. Como você tem percebido a transformação desse estilo dentro da moda retrô de lá para cá?
Tarantula Coffin – Eu notei que muitas garotas que adotaram esse estilo naquela época acabaram migrando para outros “rolês”. Acho isso completamente natural. Para moda retrô, particularmente aqui no Brasil, acho que foi um momento super importante. A minha percepção é que foi algo muito forte, que resultou no surgimento de marcas voltadas para moda retrô, e deu mais visibilidade às marcas que já existiam por aqui.
Universo Retrô – Nas redes sociais você costuma se identificar como Tarantula Coffin. Qual sua fascinação por aranhas?
Tarantula Coffin – Esse nome, na verdade, é uma referência à Tarantula Ghoul, que assim como a Maila Nurmi, era hostess de programa que exibia filmes de horror no final da década de 1950, o House of Horror.
Além de apresentadora e atriz, ela também gravou alguns singles com uma banda chamada The Gravediggers, que eu AMO. O fascínio que tenho é especificamente pelas mulheres-aranha de sideshows, conhecidas como “Spidora”. Aranhas de verdade, quando são grandes, eu morro de medo, pra ser sincera (risos).
Universo Retrô – Você também é ilustradora no Estranha Dupla, cheia de referências de horror com toque vintage. Como surgem as ideias para artes tão características de vocês?
Tarantula Coffin – O nosso processo criativo é muito espontâneo e caótico. Geralmente usamos como referências trechos de músicas e materiais de produções gráficas antigas como propagandas, rótulos, capas de revistas… Um tema muito presente é a rebeldia e subversão.
É muito divertido fazer releituras de, por exemplo, propagandas da década de 1950 que reforçavam a imposição de um padrão de corpo correto para as mulheres, transformando em um anúncio de um sutiã alienígena capaz de desmaterializar homens que cometem assédio.
Universo Retrô – Formada em Produção de Moda, você também já deve uma marca de roupas retrô, a Amô Mimeria. Você não quis mais seguir com esse projeto?
Tarantula Coffin – A Amô Original Pinup foi um projeto que surgiu ainda durante o curso, e que foi matéria para o meu trabalho de conclusão. Naquela época, eu tinha certeza que era aquilo que eu deveria fazer, mas depois que comecei a trabalhar como ilustradora percebi que era através do desenho que eu conseguiria me expressar melhor.
Por mais que eu ame todo o processo da criação de uma roupa, acabei encontrando na ilustração a forma de expressão que eu buscava, e decidi focar em uma coisa só. Continuo confeccionando roupas quando consigo conciliar, mas hoje o meu foco é total na Estranha Dupla.
Universo Retrô – Nos conte sobre o projeto Cabaret das Bruxas!
Tarantula Coffin – A Cabaret das Bruxas é um projeto idealizado junto com a Isabela Itabayana. Surgiu porque nós sentimos falta de uma festa mais característica de halloween aqui em Belo Horizonte, e eu diria que com um teor até mesmo nostálgico das festas que frequentamos quando éramos crianças, aquelas com decoração de fantasminha, bruxas etc.
Junto a isso, também havia a necessidade de se criar um espaço com participação mais ativa e massiva de mulheres. Seja na organização, na mesa de som, nas músicas e também na pista. Como a pandemia nos impediu de realizar o evento novamente em 2020, decidimos fazer lives explorando temáticas diferentes. Até agora realizamos três lives, e estamos muito ansiosas para que possamos realizar uma festa presencial novamente com toda segurança.
Universo Retrô – Quais são suas principais influências na moda e na ilustração?
Tarantula Coffin – Falando em estilistas, acho que toda garota fascinada por moda com um pezinho no punk vai citar Vivienne Westwood. Existem outros estilistas, mas ela criou essa estética subversiva que está presente em praticamente tudo o que eu faço. No meu ver, existe um mundo antes dela, e outro, completamente diferente, depois.
Na ilustração, eu diria Gene Bilbrew, sem pensar duas vezes. A forma como ele ilustra a figura feminina, meio fatal e esquisita, me fascina. Depois dele vem o Peter Driben com as ilustrações de pin-ups que eram consideradas vulgares para a época. Ambos tem um toque kitsch, e isso me encanta.
Universo Retrô – Qual sua inspiração para o ensaio feito para o Universo Retrô?
Tarantula Coffin – Eu tentei sair um pouco do que normalmente é abordado como pin-up no halloween, que geralmente é uma estética mais divertida, com caráter mais de fantasia, e uma estética forte dos anos 50. Eu adoro essa estética, mas queria uma outra abordagem, talvez um pouco mais séria, com uma sensualidade mais obscura.
Para isso, busquei inspiração principalmente em filmes de horror da década de 1960. Para criar o figurino, eu me inspirei na personagem interpretada por Jane Fonda, em Spirits of the Dead (1968). Outros títulos que também fizeram parte da construção do figurino e postura são Succubus (1968) e Vampyros Lesbos (1971), ambos de Jesús Franco.
As publicações Bitchcraft e Monster Parade também fizeram parte das pesquisas para o desenvolvimento dessa estética. Por fim, a referência predominante é de The Love Witch (2016). Não há quem negue que Elaine é uma das bruxas mais intrigantes do cinema.
Universo Retrô – Por fim, qual sua dica para quem quiser seguir a estética horror?
Tarantula Coffin – Seja curioso sobre quem você é. O autoconhecimento é importantíssimo para se apropriar de qualquer estética. Se você usa uma peça de roupa por influência de terceiros, mas não se identifica ou se sente desconfortável, muito provavelmente é porque aquilo não pertence à sua identidade.
É necessário que a gente passe por um período de experimentação para conhecer nossos gostos e afinidades, a partir disso vamos acumulando informações e criando a nossa estética. Como uma apreciadora da rebeldia e subversão dos anos 60, minha dica também é: quebre as regras! Somos seres muito complexos para nos limitar.
Ficha Técnica
Foto: Souzza Siri
Produção: Tarantula Coffin
