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Vedete Brasileira é a inspiração para o Pin-Up do Mês do Universo Retrô

31 de julho de 2024, por Daise Alves
Lifestyle
Vedete a Pinup Brasileira

Esse ano, o Universo Retrô celebra 9 anos e, como de costume, nós editoras protagonizamos um editorial especial para celebrar a data. Após ilustrar diversos temas, sendo o último deles o contraponto entre a Mulher Selvagem e a Mulher Futurista, chegou a hora de trazer temas mais glamourosos, atrelados à nossa essência vintage e inspirados pela cultura brasileira, a começar pelas vedetes. 

As vedetes foram a grande atração feminina do Teatro de Revista, formato teatral marcante na história do Brasil em meados do século XX. E como não é possível falar de um assunto, sem citar o outro, vamos imergir nesse grande espetáculo brasileiro envolto de muito brilho, glamour, beleza, talento e ousadia.

(Foto: Taína Medeiros)

Editorial Vedete Brasileira por Universo Retrô Produções

Protagonizado por mim, Daise Alves, como Miss Daisy, para o Pin-Up do Mês de Julho de 2024, o editorial Vedete Brasileira é uma produção original do Universo Retrô Produções, em parceria com a fotógrafa Taína Medeiros, edição de Lucas Simões e beleza de Tayrine Pinheiro. 

Em fundo infinito, o ensaio foi clicado no Eventual Estúdio, estúdio fotográfico idealizado pela própria Taína num casarão de mais de 300 metros quadrados no Brooklin. O local possui diversos cenários, além de um espaço com várias cores de fundo fotográfico.

Dessa vez, a ideia era trazer o universo dos espetáculos do Teatro de Revista e todo o charme das vedetes existentes na época, num ensaio fotográfico Pin-Up bem brasileiro e alegre, envolto de muitas plumas, leques, brilhos e paetês.

(Foto: Taína Medeiros)

O figurino faz parte do acervo de uma Vedete contemporânea 

O figurino faz parte do acervo pessoal da Pin-up brasileira Aurora D’Vine, nome artístico de Cinthia Isabel Alves, artista burlesca e jornalista apaixonada pelo Teatro Musical e antigas manifestações artísticas. Cinthia, que também já foi Pin-Up do Mês do Universo Retrô, representando o Carnaval, em 2016, desenvolveu seu projeto de mestrado sobre a Companhia Cinematográfica Vera Cruz , onde também fez um laboratório sobre as Vedetes do Brasil. 

Como artista burlesca, este foi o seu primeiro figurino, feito sob medida para ela há cerca de 10 anos atrás por uma costureira particular. Composto de 2 peças de roupa, sendo um body tomara-que-caia rosa de paetês com saia aberta na frente, também de paetês, o figurino conta ainda com uma peça de cabeça típica das vedetes com pedrarias, strass e penas, gargantilha de pedrarias e luvas rosa com plumas e brilhos. Arrematamos o visual com meia-calça arrastão bege e sandálias douradas vintage do nosso acervo.  

(Foto: Taína Medeiros)

Cenário inspirado pelas cores do figurino

A partir desse figurino em tons de rosa, surgiu a ideia de criar um ensaio monocromático, mais clean e minimalista (na medida do possível) do que costume, com fundo também na cor rosa, mas que trouxesse a proposta de espetáculo. Algo inédito das produções do Universo Retrô, até o momento, pois elas sempre estiveram envoltas de paisagens naturais, cenários retrô ou manipulações digitais.

Mas, afinal, o que é Vedete?

Vedete é a principal artista feminina do Teatro de Revista, formato teatral brasileiro popular entre os anos 1920 e 1940, que começou a ter seu declínio nos anos de 1950. Um requisito básico para se tornar uma Vedete era ter um corpo escultural, pernas bonitas, uma cintura marcada e curvilínea e um rosto bonito (dentro dos padrões de beleza da época). Inicialmente, não era necessário ter habilidades artísticas como cantar, dançar ou interpretar, mas era algo que a experiência nos palcos permitia desenvolver ao longo do tempo.

Com inspiração em artistas de cabarés parisienses, como Bataclan e Moulin-Rouge, mas com uma fórmula mais abrasileirada, essas personagens também possuíam seu toque de humor, já que seu objetivo durante o espetáculo era entreter e cativar o público com performances divertidas e figurinos exuberantes.

(Foto: Taína Medeiros)

Muito além dos espetáculos no Teatro de Revista, as vedetes também influenciavam a moda e os padrões de beleza da época. Figuras públicas, elas frequentemente apareciam em capas de revistas e em eventos sociais. 

A origem das vedetes

Etimologicamente, vedete vem do italiano vedetta, para se referir a uma pessoa que está em campo de observação ou de segurança, um vigia que deve ter o olhar atento. Na França, a tradução foi para vedette, trazendo a proposta de sentinela, e que posteriormente se referia “àquela que ficava no posto mais alto”.

A partir daí, o universo do espetáculo passou a destacar nos cartazes, ou colocar em cima os artistas principais das atrações. Não demorou muito para que as estrelas do show fossem chamadas de vedetes.

(Foto: Taína Medeiros)

No Brasil, as primeiras vedetes surgiram no século XIX, com o cancan (dança francesa) das operetas, um espetáculo de variedades (canto, dança e corpo de baile) que começou a emergir no Rio de Janeiro, na época, capital imperial do Brasil. Ali, onde havia uma ânsia por progresso, foi apresentada a boemia francesa aos brasileiros, que se entusiasmaram com o glamour das atrações.

O que é o Teatro de Revista?

O teatro de revista é um gênero teatral que combina elementos de comédia, música, dança e sátira e tem uma estrutura fragmentada, composta por esquetes, números musicais e coreografias, sem necessariamente precisar construir uma narrativa contínua. Por isso, ele se chama “de revista”, já que cada número do espetáculo, funciona de forma independente, como uma editoria, apresentando temas variados que refletem a cultura e a sociedade da época.

Com muitas referências europeias, foi a partir da década de 1920 que começou a surgir uma variação nacional do Teatro de Revista com um toque mais carnavalesco. Com o tempo, a proposta também foi mudando, criando um espetáculo mais requintado, com humor sutil e beleza exuberante das mulheres, que precisavam ter corpos mais esculturais, pernas torneadas, serem comunicativas e cantarem bem, já que o rádio começava a ganhar relevância e esse era um espaço também de divulgação da música brasileira.

(Foto: Taína Medeiros)

Vedetes e Walter Pinto

Um dos nomes responsáveis por tornar as vedetes um elemento luxuoso dos espetáculos foi Walter Pinto. O empresário tinha um olhar atento para potenciais “show girls” que tinham talento e beleza natural e que pudessem interagir com a plateia de forma leve e sensual. Elas ganharam tanto destaque, que passaram a ter mais valor que os cômicos dos espetáculos.

Seu método começou a profissionalizar as vedetes dando a elas todo suporte para se desenvolverem melhor nos palcos, com canto, coreografia e postura e criando assim um “plano de carreira” para elas.

O glamour das vedetes com penas, paetes e plumas
(Foto: Taína Medeiros)

O Sistema Vedete

No artigo “O Sistema Vedete” de Neyde Veneziano, diretora e professora doutora em teatro, percebe-se a figura da vedete ficou tão grande, que Walter Pinto acabou desenvolvendo o Sistema Vedete, onde foi criado uma hierarquia entre as garotas do espetáculo, até conseguir chegar no alto escalão:

  • Girls: (bailarinas que dançam nas filas, como um coro); antes eram chamadas de coristas;
  • Vedetinhas: aquelas seis ou oito que acompanham a vedete maior, em seus quadros. Havia vedetinhas da Virginia Lane, da Mara Rubia e assim por diante. Elas eram como um séquito que acompanhava a grande vedete;
  • Vedete de quadro: Nas revistas havia mais de uma vedete. Mesmo não sendo a maior estrela da companhia, as outras (já por conquista e por profissão) faziam com suas vedetinhas, números só delas;
  • Vedete do espetáculo: Esse era o posto do desejo. A maior vedete do espetáculo que, ao lado do cômico, formava a dupla de suporte da revista. Eram as grandes atrações. Seus nomes deveriam estar no alto dos cartazes;
  • Estrela: A vedete, ao alcançar o reconhecimento e a notoriedade, era apresentada como Estrela da Companhia.
Vedete Walter Pinto
(Foto: Taína Medeiros)

Principais Vedetes Brasileiras

Entre as principais vedetes, podemos citar Virginia Lane, conhecida como a “Vedete do Brasil”, famosa por suas performances no Cassino da Urca e atrelada a uma relação amorosa durante 10 anos com o ex-presidente Getúlio Vargas.

Outros grandes nomes de vedetes brasileiras que podemos citar aqui são Luz Del Fuego (a primeira artista a aparecer nua no palco), Elvira Pagã, Mara Rúbia, Suzy King, Marta Jane, Marly Marley, Dercy Gonçalves, Carmen Verônica, Lilian Fernandes, Íris Bruzzi (confira a entrevista que Aurora D’Vine fez com a artista para o Universo Retrô em 2016), entre tantas outras.

Retrato de vedete brasileira
(Foto: Taína Medeiros)

O Declínio das vedetes e do Teatro de Revista

Com o tempo, além da censura vivida no país em meados do século XX, a televisão foi ganhando relevância, portanto sair de casa para se divertir e buscar entretenimento na rua já não era mais necessário. Os profissionais do teatro começaram a trabalhar com a TV e os produtores pararam de investir nesse tipo de espetáculo, dando espaço para novos formatos em ascensão na época. 

O nu começou a ficar mais evidente, e o charme das vedetes já não fazia mais sentido. A sensualidade e a comicidade dos palcos, foram parar nas pornochanchadas e nos programas de humor da TV. As antigas vedetes nudistas foram substituídas por strippers e a sátira passou a ser explícita. Uma nova era de valores e comportamento estava surgindo.

Ensaio vedete
(Foto: Taína Medeiros)

Existe vedete hoje em dia?

Desde então, não se formaram mais novas vedetes no país. Embora existam muitas artistas burlescas, que buscam inspiração neste formato, como a própria Aurora D’vine, principalmente, no cenário alternativo, nos moldes como elas surgiram já não se encontra mais. 

Mas, apesar do declínio do teatro de revista, o legado das vedetes permanece até os dias de hoje. Elas influenciaram o entretenimento brasileiro e foram responsáveis por abrir caminho para futuras gerações de artistas. Um dos nomes que podemos citar é Claudia Rai. Ela não é tradicionalmente classificada como vedete, mas tem características e talentos que a associam ao tipo de performance realizado pelas vedetes, já que é atriz, canta e dança em musicais e espetáculos teatrais.

(Foto: Taína Medeiros)

Vedete: A Pin-Up Brasileira

Muito mais do que figuras de contemplação e entretenimento, as Vedetes foram ícones culturais que ajudaram a definir uma era na cultura popular brasileira. Seu impacto pode ser visto até hoje nas produções para o teatro, nos programas de televisão, na dança e na comédia do país.

Mais do que uma personagem, ser vedete é sinônimo de libertação, glamour, provocação, denúncia, beleza, sensualidade, luxo, poder, fantasia, charme, humor, malícia, alegria e inteligência.

As vedetes são a alma do teatro de revista, misturando beleza, talento e carisma para encantar o público e transformar cada espetáculo em uma experiência única e inesquecível.

(Foto: Taína Medeiros)

Ouça no Spotify

Muitas vedetes tinham habilidades de cantoras nos palcos, mas há poucos registros nas vozes das mesmas nessa época. Mesmo assim, selecionamos algumas trilhas, com espírito mais brasileiro nas vozes femininas que alegravam as décadas.

Ficha Técnica

Idealização: @daisealvesa e @mirella_fonzar
Produção: @producoesuniversoretro
Conteúdo: @siteuniversoretro
Foto: @tainamedeirosfotografia
Edição: @luck_simoes
Estúdio: @eventualestudio
Figurino: @aurora_dvine e acervo Universo Retrô
Beleza: @tayrine.pinheiro

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