No sábado (11), aconteceu o Mods MayDay, evento dedicado a cena sixtie que contou com a participação das bandas: a promissora Os Artefactos; Efedrinas e Modulares, grupos que mantiveram o movimento ativo nos anos 2000 e The Chats, clássica banda dos anos 90 e uma das responsáveis por mostrar o que é o mod no Brasil. O evento também foi a oportunidade para o lançamento do livro Nós Somos os Mods do jornalista e escritor André Carmona, o qual podemos considerar como o primeiro registro oficial sobre a cena mod paulistana.
A princípio, mod (que vem de moderno) referê-se a um conceito e estilo de vida que surgiram em Londres no final dos anos 50. Composto por jovens ligados ao comércio de tecido, eles tinham gostos em comum, como a paixão pela moda, em especial os ternos italianos de corte justos, e amor pela música como modern jazz, blues e r&b.
No Brasil, se você fizer uma pesquisa rápida no Google sobre a cena mod brasileira ou paulistana ou procurar por bandas que influenciaram esse ‘movimento’ por aqui encontrá poucas informações textuais ou visuais.
Diferente da cultura rocker, em que hoje já tem conquistado um pouco mais de espaço na mídia, os mods ainda são mais incompreendidos dentro da cena underground paulistana.
Percebendo essa dificuldade em encontrar essas informações e atrelando ao seu gosto particular por essa subcultura, o jornalista André Carmona decidiu oficializar essa sua paixão em um livro-reportagem de 139 páginas, produzido de forma independente. Fruto de um trabalho acadêmico, o livro Nós Somos os Mods mostra o que foi a cena mod na capital paulista.
O registro inicia com um panorama histórico sobre a cidade de São Paulo de forma bem ilustrativa, mostrando dados sobre inflação, um mundo ainda sem internet, uma cidade em crescimento e os programas televisivos que faziam sucesso na época. É assim, que o autor nos introduz sobre as questões sociais que influenciaram muitas bandas de rock na virada dos anos 80 e 90 na capital de São Paulo.
Entre elas está a que seria considerada uma das primeiras bandas mod do Brasil: o Irá!. Com o álbum Mudança de Comportamento de 1985, trouxe em uma de suas faixas a canção Ninguém entende um mod, o que seria a abertura para alguns jovens se questionarem sobre “o que é ‘mod?'” (que está citado na música), se identificarem com aquilo e fazer a cena tipicamente londrina acontecer também em SP.
O livro, divido em 6 partes, ainda mostra no segundo capítulo “Nasci em 62”, a primeira e única vez que o termo “mod” teve destaque na mídia brasileira de forma ainda um pouco pejorativa. E como o Brasil se conectou com aquele movimento de certa forma, com pequenas associações como a Jovem Guarda.
Já no capítulo “Elegância Periférica”, somos apresentados a uma pequena introdução sobre os primeiros sinais do movimento em São Paulo, principalmente com os integrantes da banda Faces e Fases. Mas, Carmona deixa que a história seja contada pelos próprios. Para quem leu o livro Mate-me por favor, de Larry “Legs” McNeil e Gilliam McCain, esse trecho do livro segue essa mesma linha com relatos ditos pelos próprios “personagens” do movimento. Sem interferências do escritor.
No capítulo seguinte “Oráculo Polifônico”, o autor toma a vez de narrador e conta sobre sua relação com a DJ Amarilis Gibeli. Nascida em 1954, desde pequena teve contato com a música. Foi uma das primeiras mulheres a trabalhar no ECAD, o qual trabalhou 30 anos de sua vida. Atualmente, aos 63 anos é considerada grande conhecedora e colecionadora da música dos anos 60, mas infelizmente hoje se encontra com a visão um pouco debilitada, o que tem prejudicado o desenvolvimento do seu trabalho.
No 5º capítulo “A Saga mod de Chinaski’, quem surge é Walter Chinascki da banda Laboratório SP, um dos responsáveis por movimentar a cena mod paulistana. Atualmente vivendo em Londres, o personagem contribuiu com o livro por depoimento telefonônico, contando sua história e relação com o movimento
Por fim, o livro termina com “Da Molecagem Virtual às Vitrolas”. O capítulo é feito em formato de entrevista com o baterista da banda Efedrinas Caetano Sevilla. Ele fala sobre o movimento diante do boom das redes sociais e como os formatos tecnológicos têm contribuído para o crescimento do movimento.
Por questões editoriais, o livro é dedicado apenas a cena paulistana, não abordando o movimento em outras cidades do Brasil. Entretanto, o material ainda trás um encarte com uma visão geral sobre a origem dos mods em Londres no final dos anos 50, seus conceitos e ideologias; a história do símbolo icônico que representa os mods (o famoso alvo com as cores do reino unido); o auge da cena nos anos 60; as bandas que se destacaram, e por fim, o seu revival, principalmente com o lançamento do filme Quadrophenia em 1979.
Devido informações escassas, apesar desse ser um movimento forte nos anos 60, como tudo no Brasil, a música e estilo mod só chegou ao país com força maior nos anos 80. De forma nostálgica, tanto para quem viveu o movimento, quanto para os curiosos que gostariam de saber como foi ter vivido naquela época, o autor nos trouxe alguns personagens que considera importantes para o movimento, composto por jovens que eram realmente apaixonados pelo estilo musical, ideologia e forma de se vestir.
Para esses jovens, descobrir sobre o que era mod era algo que envolvia muita pesquisa. Hoje, mesmo com os avanços tecnológicos e facilidades digitais, o movimento ainda tornasse escasso de informação, mas o livro Nós Somos os Mods pode ser um ponta-pé inicial para quem deseja descobrir as origens do movimento de forma mais introdutória.
Livro maravilhoso! Quem tem interesse no universo MOD, vale a pena ler.
Western Europe also formed