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Miguelito, a cópia brasileira trash e descarada de Chaves que virou lost media

3 de abril de 2023, por Leila Benedetti
Cinema & TV
Miguelito

Muitos nunca ouviram falar (principalmente aqueles com menos de 30 anos), enquanto que outros achavam que foi apenas um rápido delírio sofrido na infância. Isso até Miguelito ressurgir das cinzas um pouco mais de 20 anos depois e virar assunto na internet, principalmente entre os fãs do Chaves

Para quem não sabe, Miguelito era uma série infantil de televisão produzida pela Gugu Produções Merchandising em parceria com a Câmera 5. Sua estreia se deu em julho de 2000 na RedeTV!, substituindo o também infantil Galera da TV, da ex-paquita Andréa Sorvetão. Essa série carregava uma polêmica das grandes, ela era uma cópia descarada e bem mal-feita do seriado mexicano, que era sucesso por anos no SBT

O enredo era exatamente o mesmo (tanto que nem será mencionado por aqui) e até os episódios seguiam exatamente o mesmo roteiro. As poucas diferenças eram o nome dos personagens, uma caixa no lugar do barril e a qualidade amadora da direção de arte e do elenco, que, por incrível que pareça, era integrado por atores profissionais. Esta série ficou no ar por uma semana, exibindo apenas cinco episódios, e foi removida da programação sem nenhum aviso prévio. 

Na crença do público, Miguelito saiu do ar por conta da falta de sucesso devido a razões bastante óbvias. Além disso, ninguém mais ouvia ou falava sobre, nem mesmo os atores (que parte deles abandonaram a carreira logo depois) mencionam a série nos currículos. Com isso, a produção caiu totalmente no esquecimento e entrou para o universo da Lost Media.

Mas o que é Lost Media? 

Lost Media é o termo usado para definir qualquer material de TV que passou por todas as etapas de uma produção, mas que, por algum motivo, foi ao ar apenas uma vez ou até mesmo nunca foi. A Lost Media pode se apresentar de várias formas, como um filme, animações, comerciais antigos, episódios de alguma série ou até mesmo uma série inteira. Nos dias de hoje, aquele que resgatar uma Lost Media e lançá-la na internet, mesmo que não oficialmente, transforma a produção em uma Mídia Preservada e é visto como um herói cultural pelos outros internautas. 

Um exemplo de Lost Media que vai além do Miguelito está A Little Bit Strange, que teve sua chamada de estreia transmitida na televisão americana, mas nem o seu episódio piloto chegou a ir para o ar. Ao contrário da “cópia brasileira do Chaves”, o motivo desta foi porque nos anos 80, uma série familiar protagonizada por negros não gerava tanta repercussão. Outros que também já estiveram nesse patamar foram os episódios perdidos de Chaves e Chapolin, que foram resgatados e exibidos pelo próprio SBT décadas depois.  

Chaves e Chapolin
(Vários episódios de Chaves e Chapolin também caíram no limbo da Lost Media até o SBT resgatá-los. | Foto: Divulgação/Televisa)

O Miguelito como Mídia Preservada acabou desenterrando mais polêmicas

Muito recentemente, o neto do ator Luiz Baccelli, que interpretou Seu Flodoaldo (a imitação do Seu Madruga) na série, encontrou em casa duas fitas de vídeo com os cinco episódios que foram ao ar e mais um trecho do que seria o episódio piloto, digitalizou e postou em seu canal no Youtube. Isso atiçou um grupo de caçadores de mídia perdida, que, de alguma forma, descobriram mais pérolas sobre a série. 

A começar pela ambição da produtora de Gugu Liberato, que, aliás, tinha Beto Carrero como sócio. Os dois empreendedores tinham uma perspectiva grandiosa e pretendiam receber convidados internacionais no programa, a fim de exportá-lo para outros países da América Latina. Além disso, foram 22 episódios gravados e R$ 800 mil investidos na produção. 

Miguelito estava agendado para estrear no dia 31 de janeiro pela Record, que resolveu adiar o lançamento para março poucos dias antes e, logo em seguida, cancelá-lo definitivamente antes da nova data de estreia, sob o pretexto dos altos gastos que teria se levasse o projeto adiante. A GPM acabou repassando a série para a RedeTV! sem nenhum custo e a então nova emissora estreou a série no mês de julho daquele ano. 

Com uma repercussão negativa não apenas do público, como também do próprio superintendente artístico e de programação Roberto Gallo, que dizia que a produção “não o agradava” e que era um “clone do Chaves”, Miguelito ficou apenas 5 dias no ar e registrou um ibope máximo de apenas um ponto. Gugu Liberato alegou na época que não havia gostado das críticas de Gallo e que a emissora não havia cumprido o combinado de exibir duas vezes por dia, além de exigir que a série saísse do ar. Com esse cancelamento repentino, os outros 17 episódios foram parar e ainda permanece no limbo.   

Outra polêmica pesada em torno da série também veio à tona recentemente durante uma entrevista com Eduardo Estrela para o Estadão. O ator, que, na casa dos 30 anos, protagonizou no papel do menino pobre, assim como fez Roberto Bolaños na série original, disse que era orientado pela produtora a “não falar nada do Chaves” nas entrevistas na época. Portanto, ele falava que “nunca tinha visto a série mexicana”, o que deixou a situação ainda mais estranha.  

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