Tipos de Pin-Up é um conceito apresentado em uma matéria publicada originalmente no blog Mente Fluatuante Retrô, escrita por mim, em 2013. O estudo foi feito através de uma pesquisa de desk research e análise de materiais e referências encontrados naquela época na internet.
Essa foi a primeira vez em que houve uma “lista” que catalogou os diferentes estilos retrô existentes. A proposta tinha como objetivo quebrar o estereótipo de que Pin-up era uma garota branca, de batom vermelho, vestindo uma saia rodada de bolinhas e mostrar que havia vários outros subestilos dentro do estilo e que este poderia ser adotado por todos os tipos de mulheres.
Essa é uma das matérias mais acessadas do blog, ficando atrás somente de Anos 40 – A Moda e a Guerra e também uma das mais replicadas. Em uma pesquisa rápida no Google é possível achar outras matérias e vídeos abordando o mesmo assunto que surgiram logo depois da publicação original.
A publicação escrita em 2013, ainda embasa alguns conteúdos e projetos desenvolvidos nos dias de hoje. Acontece que, de 2013 para cá, 7 anos se passaram e muita coisa mudou. E com essas mudanças, surgimos com a reflexão aqui no Universo Retrô, essa matéria ainda faz sentido nos dias de hoje?
Tipos de Pin-Ups em 2013
Como já mencionado, a matéria Tipos de Pin-Up foi escrita em janeiro de 2013, um ano após o nascimento do blog, que surgiu em 2012. Uma época na qual as redes sociais ainda estavam despontando e blogs eram o principal meio de comunicação para produtores de conteúdo, que na época também não era um termo muito utilizado.
Também haviam poucos blogs dedicados ao assunto e quem administrava algum deles era porque realmente gostava do tema retrô, estava disposto a falar sobre história da moda e propagar esse estilo ainda pouco conhecido do grande público. Não havia intensão de ficar famoso e virar influenciador, apenas compartilhar conteúdo.
Só para se ter uma ideia, o Instagram, o principal canal de influência hoje, surgiu apenas em 2010 e exclusivamente para usuários de iOs. Apenas em 2012 o aplicativo foi disponibilizado para Android e ainda levou um bom tempo para ter a popularidade que ele tem hoje. Por isso, blogs ainda eram muito relevantes naquele período.
Acontece que na matéria fala-se sobre “tipos” no sentido de “estilo”, passando a ideia de que de há vários estilos de pin-up. Mas, também cita biotipos como mulheres gordas, e etnias como negras e orientais.
Conforme os anos se passaram algumas pessoas me perguntaram porque negras, gordas e orientais estariam no meio de cheesecake e rockabilly, sendo que uma coisa é estilo e outra é biotipo e etnia. E esse questionamento é completamente coerente e correto!
Poucas referências de pin-ups nacionais modernas no início dos anos 2010
O estilo de pin-up moderno como conhecemos hoje, mais focado em lifestyle e transformado em um movimento, começou a despontar no Brasil entre o final dos anos 2000 e início dos anos 2010.
Trabalhos da fotógrafa Juliana Robin e pin-ups como Miss Gennie, Miss Cherry on Fire e Ana Bandarra foram precursores nesse estilo por aqui nesse período. Além do extinto portal Pin Me Up, dedicado a esse segmento, que funcionava como uma espécie de fórum e era preciso pagar para acessar o conteúdo.
O trio chegou a participar do programa da Hebe em 2009, para divulgar a exposição Garotas do Calendário, com fotos que também ilustraram o Calendário 2010.
Porém, ainda era um cenário novo aqui no Brasil e existiam poucas adeptas naquele período. Pin-Ups mais conhecidas hoje, como Howdy Sister e Aurora D’Vine – que se destacou pela semelhança como Dita von Teese, na época – despontaram no concurso Miss Hot Rods de 2011, apresentado por Lady Cat, em uma época que o Facebook era a maior rede social e começou a facilitar a aproximação de pessoas adeptas ao estilo.
Diferente de hoje, que existem diversos projetos dedicados ao estilo pin-up e as redes sociais, em especial o Instagram, que ajudam a propagar o estilo, antes não era assim.
As maiores referências atuais da época eram estrangeiras como Bernie Dexter, que despontou como sósia da Bettie Page, Micheline Pitty, Masuimi Max, Sabina Kelley, entre outras modelos pin-ups que posavam para marcas como Pinup Girl Clothing e Bettie Page Clothing. O que mais uma vez influenciou na nossa percepção sobre os diferentes “tipos de pin-up”.
O conceito de empoderamento feminino existia em 2013?
Na época, a proposta foi – ingenuamente – falar que Pin-up era mais que garotas de batom vermelho com vestido de bolinhas e que o estilo era adaptável a todas as mulheres e não apenas às mulheres brancas e magras.
Entendo o questionamento, pois hoje muito se fala sobre empoderamento feminino e ali parecia que uma mulher gorda era um tipo de pin-up e que ela não que poderia ter um estilo rockabilly, por exemplo. Ou que uma mulher negra não poderia ter um estilo navy, tratando o assunto como se fosse a mesma coisa.
Esse questionamento faz super sentido para os dias de hoje, em que pautas feministas estão em voga e nos fazem refletir a importância delas. Por mais que empoderamento e feminismo nunca tenham deixado de existir, em 2013 essa ainda não era pauta midiática e os termos não eram populares.
Então, por mais que eu, como escritora, já tivesse raízes que despontariam a abraçar as causas de igualdade, sororidade e ser contra qualquer tipo de preconceito, a matéria não nasceu puramente com essa proposta.
Só para se ter uma ideia, olhando no Google Trends, ferramenta de tendências do Google, foi a partir de 2015 que termos como feminismo, empoderamento e sororidade começaram a se tornar pautas relevantes e as pessoas começaram a fazer “buscas” para entender mais sobre esses assuntos.
Mas, afinal. Existe ou não existe tipos de pin-up?
A primeira correção que podemos fazer aqui é falar que, na arte Pin-Up, existem sim tipos de Pin-Up, que podem incluir os já conhecidos estilos:
- Cheesecake
- Burlesco
- Classic Hollywood
- Rockabilly
- Psychobilly
- Tiki
- Dark
- Western
- Navy
- Army
- Aviator
E é daí que saem essas referências que inspiram tantos ensaios fotográficos hoje em dia ou até mesmo a maneira como muitas Pin-Ups se vestem. Mas, também existem vários outros temas que podem ser abordados.
Prova disso é que em A publicidade como impulsionadora da arte pin-up, falamos que os ilustradores retratavam as Pin-ups em diferentes situações, como “cozinhando, pintando, passeando com o cachorro…”.
Pois essa era uma forma de representar o dia a dia desses consumidores nas mais variadas situações. Portanto, qualquer, na teoria, temática pode inspirar uma Pin-Up (inclusive, já fizemos ensaios com pin-up Cangaceira, Sereia e Cigana).
Mas, o que podemos corrigir neste conceito, e é algo que sempre frisamos aqui no site, é reforçar que, além de existirem diferentes estilos de Pin-up, que vão muito além do vestido de bolinhas, essa vertente do estilo retrô pode se adequar a:
- Diferentes tipos de mulheres (cis e trans);
- Uma enorme diversidade de etnias (brancas, negras, orientais, latinas, etc);
- Biótipos femininos (magras, gordas, mulheres com deficiência, etc).
Além disso, não é preciso se limitar a um estilo para ser exclusivamente uma Dark Pin-Up ou uma Tiki Pin-Up, por exemplo; hoje em dia, os estilos se mesclam, se fundem e você não precisa ficar presa a um só.
Para muitas pessoas essas referências podem sim embasar a adotar o estilo. Mas, há também quem está em evolução, transição, desconstrução e ressignificação em relação ao estilo. E isso é o mais legal de adotar o Pin-Up Lifestyle: poder criar e desenvolver sua própria personalidade baseada em diversas referências.
A evolução do estilo Pin-up
Na matéria Pin-Up Arte e Lifestyle falamos sobre as mudanças no universo das pin-ups ao longo dos anos e como o conceito deixou de ser apenas uma arte do passado para se tornar também ser um estilo de vida do presente, abraçando, inclusive, temas atuais, como empoderamento feminino, inclusão e sororidade.
Por isso, é muito importante entender que, para os dias de hoje, existe a liberdade em relação ao estilo a ser seguido, que pode variar conforme a personalidade de cada adepta; portanto, não precisamos ser mais tão engessados como lá em 2013.
Decidimos abordar este tema, pois como um veículo que é apaixonado pelo passado mas preza pelo progresso, acreditamos que cada vez menos devemos propagar conceitos ultrapassados e teorias equivocadas, já que hoje em dia temos um mar de informações relevantes para nos apoiar na propagação deste estilo de vida incrível que é o retrô.
