Depois de lançar o Calendário de Pin-Ups 2016, em parceria com o projeto Be a Bombshell e a marca Sundae Inc, com o propósito de ajudar o Lar das Mãezinhas, casa de idosas localizada na região da Penha, o Universo Retrô divulga mensalmente o editorial completo de cada data homenageada, destacando as fotos das garotas pin-ups que não entraram na publicação.
Fevereiro é representado pela brazilian bombshell Cinthia Isabel Alves, como a nossa “Divina Vedete”. Conhecida como Aurora D’Vine, ela, que é jornalista por profissão, modelo vintage e dançarina burlesca, também é uma estudiosa sobre a história das vedetes brasileiras e aficionada por cinema, música e moda, principalmente, das décadas de 1930, 1940 e 1950.
Cinthia foi escolhida para representar o Carnaval, justamente, por já valorizar a cultura brasileira em seus trabalhos, pois sempre tenta resgatar essa essência em suas apresentações. Fotografado no Circus Hair, salão de beleza localizado em São Paulo, que resgata a cultura vintage em sua decoração, o editorial carnavalesco aproveitou parte do espaço para ambientalizar o tema da nossa estrela.
O salão, que também possui um pequeno brechó, foi o cenário perfeito para o tema do Carnaval, que remete ao camarim de uma linda vedete, que está escolhendo seu figurino para o baile. Fotografada por Marcello Garcia, para esse ensaio, a modelo usou seu próprio figurino, já utilizado para alguns espetáculos, e teve o apoio do projeto Be a Bomshell para a produção artística das fotos.
Para conhecer um pouco mais sobre Aurora D’Vine, confira a entrevista com a artista, que nos fala sobre sua relação com a estética pin-up, a admiração pelas vedetes e pela arte burlesca.
Universo Retrô – Você iniciou sua carreira artística como modelo pin-up e sósia de Dita Von Teese. Hoje, tem uma personagem, Aurora D’Vine. Porque você decidiu desvincular da imagem de sósia para criar uma nova persona? Acredita que dá mais credibilidade e originalidade para o seu trabalho?
Cinthia Isabel: Quando iniciei os trabalhos como modelo pin-up, muitas pessoas se referiam a mim como sósia da Dita Von Tesse. Fui contratada por algumas agências e empresas, justamente, pela semelhança com a dançarina burlesca. Mas a Dita é única, assim como tantos outros artistas que me inspiram. Quando iniciei um projeto artístico com a dança, quis buscar outras inspirações e, assim, construir um nome que pudesse ser referência para o que eu desenvolvo hoje. Mesmo assim, muitas pessoas me anunciam como sósia da Dita – acredito que isso permanecerá eternamente (risos), e é algo do qual me orgulho muito, quem não gostaria de se parecer com um ícone como Dita?
Mas a gente não pode viver à sombra de outro artista. Quando alguém te anuncia como sósia, o público aguarda algo muito parecido com o que ela leva hoje aos palcos, que se traduz em shows milionários, com superproduções. Eu prezo muito pela beleza em minhas apresentações, algo que possa impressionar o público logo de cara, por isso, invisto em figurinos, acessórios e, talvez, isso se assemelhe um pouco ao que a Dita traz a título de show. Um dia ouvi “Mais Aurora, menos Dita”, então acredito que, pelo menos, aqui no Brasil, eu tenho construído essa credibilidade pela minha forma de trabalhar.
Universo Retrô – Atualmente você faz um trabalho de mestrado sobre a Companhia Cinematográfica Vera Cruz e laboratório sobre as Vedetes do Brasil. Como surgiu seu interesse por essas histórias?
Cinthia Isabel – O Brasil é muito rico em diversos aspectos, e cinema sempre foi um assunto que me despertou interesse. O cinema nacional e seus personagens deixaram um enorme legado para tudo o que viria mais tarde. É muito divertido perceber a inocência das histórias contadas por Mazzaropi, por exemplo, um humor leve. Para iniciar essa história eu fui para o interior do estado de Goiás, entrevistar Eliane Lage, primeira atriz da Companhia Vera Cruz, sobrinha de Yolanda Penteado e Ciccillo Matarazzo.
Olhar para aquela mulher e ouvir suas histórias me fizeram querer entrar de cabeça no mundo do cinema nacional, suas companhias, glórias e fracassos e, por que fracassamos? Isso é algo que eu tenho descoberto aos poucos diante de um novo projeto milionário, que emerge na cidade de São Bernardo do Campo. É desenhada uma nova realidade para os admiradores e profissionais da área. Já as vedetes são minha grande paixão e, por hoje, a minha proposta é trazer todo o encanto dessas belas mulheres, que vinham à frente de suas companhias. Para isso, precisei fazer este laboratório. Entrevistei quatro grandes vedetes e o meu trabalho tem continuidade, mas algumas coisas eu só poso contar depois (risos).
Universo Retrô – Como é encontrar essas mulheres que foram as musas daquela época. Como é ficar cara a cara com elas?
Cinthia Isabel: É incrível ficar cara a cara com uma mulher que já foi vedete, aliás, permanecem vedetes, esse título é levado para eternidade. Cada uma delas tem uma história, e a gente sabe que toda história tem seu lado bom e ruim. Foram inúmeros os desafios enfrentados, em uma época que teatro não era coisa para meninas de família. Inclusive, Neyde Veneziano, uma das grandes pesquisadores do Teatro de Revista, conta isso em seu novo documentário “Mamãe Quero ser Vedete”.
Apesar das pioneiras do teatro ter enfrentando preconceito e, algumas, com registro de prostituta, as companhias eram muito sérias, existia regra para tudo e muitas delas iam acompanhadas pelo pai ou pela mãe. Essas histórias, muitas de bastidores, são interessantíssimas e precisam ser levadas à diante. As vedetes foram esquecidas, a nossa música, a nossa tradição, e é exatamente isso que eu tenho tentado apresentar, já que muitas pessoas desconhecem os grandes personagens brasileiros.
Universo Retrô – Você também tem outro projeto de performances baseadas no burlesco, no Teatro Vaudeville e nas Revistas Brasileiras, com números de sapateado, jazz e leques de plumas. Como essa arte entrou na sua vida?
Cinthia Isabel – O projeto é o mesmo, o que difere são os números apresentados, até porque as revistas tiveram influência do Vaudeville, que nada mais é que um teatro de variedades. Sempre fui uma grande admiradora dos antigos musicais, e me emociona ver alguém dançar e cantar. De tanto assistir aos filmes do Fred Astaire e Ginger Rogers, quis aprender a sapatear e desenvolver números que remontassem cenas de filmes de época.
Comecei a dançar e, em paralelo, fazer aulas de canto para que pudesse bolar números casados com música e sapateado. É uma atividade muito prazerosa e quem gosta de arte vai fundo, você quer aprender de tudo um pouco. O burlesco é um braço importante do Vaudeville e uma arte que, no início, era mais politizada, baseada também na comédia. Conforme o tempo foi passando, elementos de palco foram aparecendo, e o glamour dos leques de pluma, que traz leveza e mistério, é muito usado pelas performers do mundo todo, seja hoje ou antigamente. Um clássico.
Universo Retrô – Qual a ligação entre pin-ups, vedetes e burlesco?
Cinthia Isabel – A meu ver, a principal ligação é o amor e o gosto pelas antigas manifestações artísticas. Tivemos muitas vedetes, por exemplo, Iris Bruzzi, que aparecia na revista Sétimo Céu, em uma pose totalmente “cheesecake”, estilo fotográfico que permeia o universo das pin-ups. As atuais dançarinas burlescas se inspiram na estética de um corpo mais curvilíneo, predominante nas décadas de 40 e 50, além de apresentar a proposta nos palcos ou nas fotografias.
Vamos além, por exemplo, Miss Mosh, que une o burlesco as fotografias pin-up, e traz todo o estilo dos anos 50 para os dias de hoje. Então não tem como falar destes três assuntos de maneira distinta, porque eles estão conectados. Muitos se referem à Bettie Page como a rainha das pin ups, mas muitas fotografias trazem Bettie de pasties e tangas, uma forte característica das dançarinas burlescas. Além disso, Bettie já colocava suas aptidões burlescas ao dançar com Tempest Storm, no filme Teaserama. O burlesco nada mais é do que burlar expectativas e as pin-ups, vedetes e burlescas de fato, sempre fizeram isso.
Universo Retrô – Você foi escolhida para representar o mês de fevereiro no Carnaval, justamente por já fazer um trabalho que remete à cultura brasileira, como algumas apresentações como Carmen Miranda, por exemplo. Por isso, o que você achou de ter participado do calendário de pin-ups beneficente do Universo Retrô com essa temática?
Cinthia Isabel – Eu achei maravilhosa a ideia de um calendário que pudesse trazer belezas brasileiras, que mantem hoje um trabalho dentro da cultura retrô. Mais do que isso, quando fui convidada, não pensei duas vezes, principalmente, por se tratar de um trabalho voltado ao terceiro setor. Hoje nós carecemos de projetos como este, que tem sensibilidade e um olhar direcionado as pessoas que realmente precisam de ajuda. Busco palavras para descrever o quanto me emocionou participar do calendário e parabenizo, mais uma vez, o Universo Retrô por essa e tantas outras iniciativas que tem feito a diferença na vida de muita gente.
Universo Retrô – Hoje, o termo pin-up e retrô já são mais comuns na mídia de massa. Mas vedetes, burlesco e teatro de revista ainda são termos que circulam muito pelo underground. Como você acha que esses assuntos podem chegar ao grande público?
Cinthia Isabel – É engraçado perceber que hoje assuntos como este permeiam pelo underground, tendo em vista que nas décadas de 40 e 50 estavam em alta. Os navios ancoravam no Rio de Janeiro e já era entregue aos visitantes um roteiro completo dos espetáculos da Praça Tiradentes. Com o advento da televisão e na música, a chegada da bossa nova, muita coisa mudou. O samba canção já não era mais o mesmo, as companhias se afundavam em dívidas, e os antigos cabarés brasileiros ou estrangeiros, entravam em depressão. Muita coisa mudou, principalmente, os valores, os gostos, os conceitos.
Hoje para muita gente, o retrô é tido como algo careta ou caxias demais. O que precisa ser feito é uma reeducação do que as diversas culturas têm para contribuir. O burlesco cresce no Brasil e a melhor forma de divulgar o nosso trabalho é montando uma rede, que é o que já vem sendo feito. Juntos, somos mais fortes, sempre parti deste princípio e acredito que estamos atravessando um momento inédito no que tange aos festivais burlescos e ao número de profissionais que cresce a cada ano. A grande massa já se interessa mais pelo tema. Nós queremos o nosso espaço, lutamos por isso, e esse trabalho, feito em conjunto, tem gerado frutos.
Universo Retrô – Você já faz trabalho fotográfico há algum tempo. Qual sua dica para as garotas que admiram seu trabalho têm você como uma referência e fonte de inspiração e querem fazer esse tipo de trabalho?
Cinthia Isabel – Minha principal dica é a pesquisa, você saber o que está fazendo, estudar os trejeitos das mulheres do passado, das fotografias cheesecake, ou mesmo, acompanhar o universo das garotas que se dedicam hoje a fazer um trabalho voltado à cultura retrô. Quando há pesquisa, quando nos debruçamos em cima de livros, internet, tudo se torna mais fácil e interessante. Você passa a descobrir um mundo e nada melhor do que desenvolver um trabalho que a gente ama baseado nas principais referências. Muitas garotas começam a trabalhar como modelo pin up a partir de concursos de beleza com foco nos anos 50. Isso acaba sendo uma vitrine para iniciais trabalhos, que pode vir a ser grandes trabalhos.
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