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Rock This Town: Editorial do Universo Retrô com rockers de São Paulo homenageia início do movimento rockabilly no Brasil

27 de julho de 2017, por Mirella Fonzar
Lifestyle
Rockers

Eles estão na faixa dos 40 e 50 anos, têm famílias constituídas e diferentes profissões, mas, apesar das responsabilidades da vida adulta, não abdicam de uma coisa até hoje: o Rockabilly. E junto com o som norteamericano típico dos anos 1950, carregam também consigo a rebeldia do passado, o estilo retrô e o amor pela subcultura Rocker brasileira que ajudaram a construir ao longo dos últimos 30 anos.

A paixão pelo estilo é estampada na pele do DJ Leandro Rocker (Foto: Taina Lossehelin)

Como parte das comemorações dos 2 anos do site Universo Retrô, além da festa Rockterapia que conta com shows das duas primeiras bandas de rockabilly do Brasil – Coke Luxe e Grilos Barulhentos e Campeonato de Topetes e Penteados Retrô, convidamos seis representantes da cena rocker paulista para um editorial em homenagem aos primórdios do rockabilly nacional. Chamado “Rock This Town”, o ensaio foi clicado por Taina Lossehelin no The Clock Rock Bar, onde acontecerá a festa no próximo dia 4 de agosto, a partir das 21h.

O nome escolhido significa algo como “quebrando essa cidade” e remete à música (vídeo acima) da banda americana Stray Cats, um dos maiores responsáveis pelo retorno e popularização do rockabilly nos anos 1980 (numa roupagem mais punk e new wave que de costume) e que mais influenciou a primeira geração de rockers brasileiros, ou seja, nossos homenageados que realmente fizeram história (e bagunça) pelas ruas da cidade de São Paulo.

Sue Cat homenageia a banda Stray Cats, com o gatinho símbolo da banda tatuado no braço (Foto: Taina Lossehelin)

Assim como Patty Boop tem tatuado um casal dançando rockabilly na perna esquerda, com direito ao tradicional chão preto e branco (Foto: Taina Lossehelin)

Quem são eles?

Patty Boop, Rose Rocker, Sue Cat, Leandro Rocker, Wagnão e Ivan Rocker. Apenas pelos codinomes como ficaram conhecidos já dá pra perceber que existe algo diferente (e retrô!) nessa turma. Todos eles começaram a frequentar as festas de rockabilly entre o final dos anos 1980 e começo de 1990 e até hoje fazem parte ativamente do movimento rocker, seja organizando ou frequentando festas do gênero e levando pra vida cotidiana essa paixão pela década de 1950.

Wagnão, Sue Cat, Patty Boop, Rose e Ivan Rocker (Foto: Taina Lossehelin)

No entanto, mesmo todos eles se conhecendo há mais de duas décadas, frequentando praticamente os mesmos lugares e curtindo todos o mesmo tipo de som, dentro da subcultura cada um traz suas próprias referências, diferentes estilos, personalidades e, claro, tem sua própria turma – que a partir de agora vamos chamar de gangues e entender de onde surgiram e como funcionam.

Leandro Rocker é DJ da Rockabilly Dancin’ Party e integrante da gangue The Dogs (Foto: Taina Lossehelin)

As Gangs Rockabilly

Nesse processo de construção do “rockabilly” como subcultura nas décadas de 1980 e 1990, além da música dos anos 1950, houve o resgate à estética greaser da época (sim, o filme Grease também tem a ver com isso, mas isso é tema para uma outra matéria) e à rebeldia dos motociclistas, que, inclusive, incluía inspiração no estilo transgressor de Marlon Brando, em The Wild One (1953).

Wagnão com o típico visual greaser (Foto: Taina Lossehelin)

Com jaqueta de couro, bota, jeans, camiseta e topete (Foto: Taina Lossehelin)

A primeira gang rocker do Brasil, com direito a jaqueta de couro com patch bordado nas costas, foi formada em São Paulo por Eric Von Zipper, grande responsável por levar para as ruas esse, ainda novo, “estilo de vida rockabilly” e que até hoje promove eventos do gênero na capital. Assim como seu codinome, Eric se inspirou no filme Turma da Praia (1965) para criar a The Ratz, que faz alusão a uma turma de motoqueiros liderada pelo vilão Von Zipper.

Ivan Rocker faz parte da gang The Ratz desde 1997 (Foto: Taina Lossehelin)

A gang, que já ultrapassa 35 anos de existência, é como se fosse a segunda família de Ivan Rocker, integrante desde 1997, DJ da festa Rockterapia e uma das personalidades escolhidas para este editorial. Ele conta que frequenta as festas assiduamente desde 1995, mas em 1988 se inscreveu, na Galeria do Rock, para começar a receber as cartas de Eric Von Zipper, com convites para eventos do Rock and Roll Clube do Brasil.

Ele já foi vice-presidente da turma e realizou muitos eventos com o Rock ‘n Roll Clube do Brasil (Foto: Taina Lossehelin)

Naquela época, o promotor Eric era um dos principais organizadores de festas de rockabilly e, com a ausência da internet, tudo dependia do boca a boca e da divulgação via correio. Durante anos e anos era assim que as pessoas ficavam sabendo dos eventos. Portanto, é importante lembrar que o movimento só cresceu (e existe até hoje) por conta do esforço e vontade dessas pessoas em levantar a cena.

Rose e Ivan Rocker posam ao lado do rat rod do amigo Hilton Lemes, da Família Rockabilly (Foto: Taina Lossehelin)

Personagens da vida real

Hoje, Ivan, em parceria com sua esposa, Rose Rocker, organiza um evento mensal de rockabilly chamado Pin-Ups Party, na Santa Cecília. Os dois se conheceram em 1996 e, ao longo dessas duas décadas de casados, o amor pelo rock ‘n roll só aumentou. Além da festa que já dura 13 anos, o casal construiu seu próprio mundo 50’s, que vai desde a decoração da casa em estilo vintage, um carro de 1957 na garagem e uma coleção com mais de mil discos de vinil – só de Elvis Presley.

Rose Rocker é adepta ao visual mais romântico e feminino, com vestidos rodados inspirados na década de 1950 (Foto: Taina Lossehelin)

Ela foi uma das primeiras mulheres a usar o termo “Pin-Up” no Brasil, quando montou uma festa de mulheres com Sandra Dee (Foto: Taina Lossehelin)

Aliás, carros antigos e discos de vinil são outra paixão em comum dessa turma. Assim como Ivan e Rose, os Djs Wagnão e Leandro Rocker colecionam LPs desde os anos 1990; enquanto Wagnão tem cerca de mil títulos e um Chevrolet Belair 1951 na garagem, Leandro se dedicou a ultrapassar os 4 mil discos. Ambos discotecam em suas festas com os famosos bolachões e garantem que essa é a melhor maneira de ouvir um som de maneira mais fiel ao que foi feito originalmente.

DJs Ivan Rocker e Wagnão vão discotecar na festa Rockterapia (Foto: Taina Lossehelin)

Além da festa Rocketerapia – 2 anos de Universo Retrô, o DJ Wagnão costuma tocar em eventos diversos relacionados à cena retrô. Ele, que faz parte da turma Ases do Rock ‘n Roll (ABC Paulista) desde os anos 1990, conta que discotecou pela primeira vez em 1994 num encontro de carros antigos e de lá em diante passou a adquirir cada vez mais material para o seu acervo pessoal, que também inclui uma sala de música com móveis e objetos vintage para receber os amigos em casa.

Wagnão com a jaqueta do Ases do Rock ‘n Roll (Foto: Taina Lossehelin)

No caso do DJ Leandro Rocker, a paixão pelo rockabilly também conseguiu ultrapassar sua coleção de discos de vinil. Ele, que é co-fundador de uma das mais tradicionais festas do gênero em São Paulo, a Rockabilly Dancin’ Party (ao lado do DJ Ailton Rockabilly, desde 2011), garante levantar o extravagante topete quase todos os dias e viver esse lifestyle na vida real. O DJ de Guarulhos faz parte da gangue fundada por Alexandre Yé (um dos responsáveis pelas festas atualmente do Tennessee Rock Club Forever 1954) em 1990, The Dogs, e conta que batizou o nome do filho de 22 anos de Elvis, tamanho seu fanatismo.

DJ Leandro Rocker com a jaqueta da The Dogs (Foto: Taina Lossehelin)

Ele foi durante um tempo o DJ Residente do The Clock Rock Bar (Foto: Taina Lossehelin)

As influências e dificuldades

Outra coisa que todos eles têm em comum é a paixão por Elvis Presley, que parece ter despertado o primeiro contato com o rockabilly e cultura dos anos 1950, já que a maioria deles vem de gerações de pais que foram bastante influenciados pelo rei e pela Jovem Guarda, na década de 1960 e até um pouco antes que isso. Além disso, as novelas temáticas também influenciaram bastante essa turma, como é o caso de Estúpido Cupido (1976) e Bambolê (1987).

O casal está junto há mais de 20 anos (Foto: Taina Lossehelin)

A paixão em comum pelo rock ‘n roll faz a parceria dos dois ser ainda maior (Foto: Taina Lossehelin)

Segundo Ivan Rocker, ele tinha 11 anos quando a novela Estúpido Cupido foi transmitida e abordava os anos 60, e anos depois, a novela Bambolê resolveu retratar a questão das gangues e do rock n’ roll dos anos 1950, também uma influência para ele. A propósito, o termo “Bombolê”, que até hoje é usado (de forma pejorativa) para definir os novatos da cena é uma referência à novela que mostrava uma caricatura do estilo de vida rocker.

Eles são casados há 20 anos e há 13 estão à frente da Pin-Ups Party (Foto: Taina Lossehelin)

Sue Cat conta que sua influencia vem principalmente de Elvis Presley e Stray Cats. Ela cresceu ouvindo discos do rei do rock e começou a frequentar assiduamente a cena no final dos anos 1980, quando conheceu Debbie e fundaram uma gangue de mulheres que hoje é liderada por outras garotas, a Simple Dolls. Naquela época, a banda de Neo Rockabilly era uma grande referência para todos eles, por misturar essa atitude e energia punk ao som e visual dos anos 1950.

Além de ser adepta das tatuagens, Sue Cat é bastante vaidosa (Foto: Taina Lossehelin)

Na época, existia bastante rivalidade entre as gangues, como no caso da Sky Billy, fundada em 1987 por Rose Rocker e que acabou em 1990 por conta de brigas rivais. No entanto, Sue conta que nunca deixou de ser amigas das meninas dos dois lados. Tanto é que já nos anos 2000, integrou por um tempo as Betty Boops, uma das turmas de rockers mulheres mais antigas do Brasil, fundada em 1988 pela Sarita e Tatiana e que ainda está em atividade.

Patty Boop não dispensa sua jaqueta das Betty Boops (Foto: Taina Lossehelin)

Patty Boop, como o codinome sugere, faz parte da turma inspirada no polêmico desenho animado Betty Boop. Assim como a boneca criada nos anos 1930 e que retornou aos holofotes nos anos 1980, as integrantes da turma tinham uma regra: não usar saias rodadas para passar a ideia do rock ‘n roll, sem demonstrar fragilidade, já que o underground de São Paulo sempre foi predominantemente masculino. Assim, a preferência de Patty até hoje são as saias lápis, calças cigarrete e jaqueta de couro, que exibe, com orgulho, o patch de sua turma bordado nas costas; diferente de Sue e Rose, que investem em visuais mais românticos.

Patty é ex-proprietária dos bares Wild Wash e Spades Café e hoje comanda o Cheff na Rua (Foto: Taina Lossehelin)

Campeã em 1989 de seu primeiro campeonato de dança, Rose curte os vestidos e saias godê com saiote por baixo para dar ainda mais volume e ajudar a rodar bastante nas pistas. Já Sue investe em visuais que misturam a atitude do rock ‘n roll e a feminilidade e sensualidade das divas do cinema de Hollywood, como suas inspirações Rita Hayworth e Marilyn Monroe, que iniciaram suas carreiras como modelos Pin-Up nos anos 1950. Ela não dispensa o batom vermelho e delineador.

Sue Cat é fão de Marilyn Monroe (Foto: Taina Lossehelin)

Sue Cat (Foto: Taina Lossehelin)

Além das jaquetas de couro, elementos como boinas, bandanas, franjinhas estilo “Bettie Page” para as mulheres, topetes a la Elvis Presley para os homens, hot rods e motocicletas customizadas começaram a ser ressaltados por turmas ligadas ao rockabilly durante esse retorno do gênero nos anos 1980, e se tornaram parte essencial desse movimento que, hoje, podemos dizer que já não representa mais um revival de uma época e, sim, uma subcultura independente e que anda com as próprias pernas. Afinal, mais quase 40 anos de história não é pra qualquer tribo.

Patty Boop, Sue Cat e Rose Roker (Foto: Taina Lossehelin)

Gostou? Não deixe de conferir a festa Rocketerapia, em comemoração aos dois anos do site Universo Retrô e conhecer pessoalmente algumas dessas personalidades do rockabilly brasileiro! :) Aproveite também para entrar no clima e confira a playlist “Rockterapia” no perfil do Universo Retrô no Spotify, com o melhor do neo rockabilly:

SERVIÇO

Festa Rockterapia – 2 anos de Universo Retrô
Evento no Facebook, aqui
Bandas Coke Luxe e Grilos Barulhentos
Djs Wagnão, Ivan Rocker e Burgos
Concurso de Topetes e Penteados Retrô, com Rick and Roll
Bazar com marcas retrô

The Clock Rock Bar
Rua Turiassú, 806 – Perdizes – São Paulo
Próximo ao metrô Barra Funda
Dia 4 de agosto – Sexta-feira
A partir das 21h
Entrada: R$ 20

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3 Responses

  1. Elaine

    Mi, Deise e Tainá… Não tenho palavras p descrever o qto estou grata… Chorando … A tds rockers das antigas meu mto obrigada p me acrescentarem tanto.

    Amor define

    50’s forever

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